Olá...
ainda não abandonei o blog, mas ultimamente não me resta muito tempo entre o meu papel de Enfermeira e de familiar de doente...
Pois... infelizmente há momentos na vida em que os papeis se invertem e é aí que damos valor aos outros...
A minha tia do coração, uma das pessoas que me ajudou a crescer, que esteve sempre presente em todos os momentos importantes da minha vida... uma daquelas pessoas bem dispostas e imprescindiveis na vida de alguém teve, neste ultimo ano, uma reviravolta na sua vida... começou a ficar demente e passados 3 meses já não vivia no presente. Nem sempre nos reconhecia e com o tempo deixou de comer sozinha, de andar, de tomar banho sozinha... passou a ser cada vez mais dependente. Não consguimos ter uma conversa decente pois confunde-se e desorienta-se... é uma dor... aquela pessoa que sempre esteve ali a nosso lado, de uma momento para o outro perde-se de nós e sinto que eu também a perdi... Queria falar com ela...contar-lhe da minha casinha nova, das minhas viagens a realizar, contar lhe as minhas aventuras no hospital, por a minha cabeça no seu colo para ela me aninhar e confortar quando estou triste... mas não posso... ela não me liga, divaga e perde-se. Sinto saudades dela... tantas saudades dela. Não morreu, posso vê-la, ela vê-me mas já não me fala, não está presente... sinto que a perdi e ainda está viva.
Como é solteira teve de ir para um lar... foi uma tristeza ainda maior, porque todos queriam ficar com ela, mas ninguém podia porque era um perigo ela ficar sozinha....
Passados 3 semanas de estar no lar, começou a ficar realmente acamada até que contraiu uma pneumonia grave....
Está internada há 2 meses, sempre a repetir infecções respiratórias e urinárias... Cada vez se percebe menos o que diz e cada vez se mexe menos...
E perante ela não sou enfermeira, sou visita e familiar, que anseia por noticias, por uma palavra de conforto, pelo médico com quem nunca se consegue falar, por alguém que me ajude a compô-la... O médico já me disse que não há nada a fazer e que basicamente é aguardar que ela nos deixe...
Entre hospitais, la ando eu a mudar de papeis...ora enfermeira ora familiar.
Como enfermeira há situações que me custam mais, acabo por ver a situação da minha tia em todas as doentes que estão em estados parecidos. Depois comovo-me... e depois trato-as como se fosse minhas tias... e envolvo-me, e não posso. Depois as familias, não as consigo deixar sem uma palavra. Geralmente dava muita importancia ás familias, se bem que querem é informações de diagnosticos e de exames que como enfermeira não posso dar. Mas falava sempre com elas, nem que fosse para dizer que "está na mesma". Hoje em dia, ainda o faço com maior convicção e vontade...
E agora é esperar... :(
As minhas visitas