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Domingo, 22 de Julho de 2007

Velhinhos e sem abrigos

Ando desaparecida não é?... Pois... eu ás vezes tenho tanto que contar, outras vezes parece que é sempre tudo igual!

Sabem, quando fui para Enfermagem, uma das vantagens era que nunca teria um dia igual ao outro, porque os doentes mudam, as patologias mudam, as intervenções diárias mudam... não me iria aborrecer uma vez que não seria monótono. Bem... a minha ideia inicial revela-se verdadeira, no entanto o facto é que frequentemente os doentes são os mesmos de um dia para a outro e por vezes pouca coisa muda... o básico, digo. Para vir escrever ao blog, tento sempre trazer certos acontecimentos que me marcaram, pelo melhor ou não e tento transmitir a ideia do que é um bocadinho da enfermagem. Como por vezes o meu dia a dia é igual não vejo sentido em vir dizer "Entao hoje, dei banhos, dei não sei quantas medicações, falei com o doente X porque ele não sabe que doença tem e está ansioso..." porque isto basicamente é o "prato do dia"!

 

Com a chegada do Verão é ver os idosos chegar ao serviço! Sim, pode ser por desidratação (o mais frequente nesta altura do ano), mas o principal diagnostico de entrada é "abandono agudo"...

Temos pelo menos 4 doentes idosos, praticamente dependentes em todos os aspectos da sua vida, que foram levados para as urgências por suposta infecção urinária ou protração (quando ás vezes até estão agitados demais...) e lá foram deixados pelos familiares, apressados para ir de férias com a família... Como os idosos nao podem ficar no SU, são transferidos para as Medicinas e, ei-los lá até as familias virem de férias.

Pois é, não são só os animais que são abandonados nas estradas e canis... os velhinhos também! E destes que vão para o SU sabemos nós... e os que ficam em casa á sua mercê? Nem quero pensar... as pessoas que nos criaram, que fizeram tudo para que possamos ter um tostão para irmos de férias, são as que mais sofrem nestas alturas! De certeza que estes filhos e netos pensam que nunca vão ter mais de 70 anos e que vão sempre depender apenas de si mesmos... Enfim...

Bem, vamos cá ver outra vertente da história! É muito fácil para mim falar... eu chego ao serviço, estou lá 8h, no máximo 16h a cuidar dos doentes e não são poucas as vezes que não saio de lá com a cabeça em água! Mas depois, vou para casa, vou saindo um dia ou outro, e tento não pensar mais neles... Ou seja, tenho o meu descanso, o meu "esquecimento" e a minha folga. No entanto, os familiares que cuidam de alguem que precisa de si a 100%, cuida deles 24 horas dia... todos os dias, durantes anos! Esses cuidadores muitas vezes perdem trabalho para cuidar do seu familiar... não os podem colocar num lar porque economicamente não é possível. Eles ficam em casa, SEMPRE, e só podem sair para ir ás compras ou ao médico quando está mais alguém em casa, senão o velhinho fica sozinho e pode acontecer alguma coisa. Imaginem o esgotamento destas pessoas... por mais que amem e que façam tudo por tudo... também sofrem, também se cansam...

Pareço o advogado do diabo... mas é importante ver as situações pelos 2 lados...! Há familias e familias... não sou tola a ponto de achar que todas as familias cuidam dos seus com a mesma dedicação. Há muitas que cuidam para receber as pensões dos mais velhos e é-lhes indiferente se eles são bem ou mal cuidados... e não me admira que sejam esses que os deixem nas urgências, vão de férias umas semanas e depois digam que o telemóvel avariou e que é por isso que não atenderam...

Agora, sou de acordo que todos os familiares que cuidam de outros devam ter a sua pausa, para bem da sua sanidade mental (e mesmo física), mas para isso era necessario haverem meios sociais...blá blá blá...que, infelizmente na nossa socidade, são miragens!

Estas situações fazem-me lembrar os outros casos frequentes na medicina: os sem abrigo. Geralmente quando um sem abrigo é internado, só sai de lá quando tem um sitio para ir e alguém para cuidar de si. Lar, mesericordia, associações e afins...!A nossa assistente social é incansável, só não faz o que não pode! Por vezes são os chefes de serviço que a pressionam com o tempo de internamento, porque "está a ocupar uma cama, isto não é um lar!" (Adiante, nem vou comentar isto Ok?).

Bem, a AS é mesmo 5 estrelas e todos saem de lá com tecto e condições para se manterem estaveis a nível de saúde. Mas... e quando eles não querem um tecto!? Impossível? Impensável....? Não... é bem real! Já por 2 ou 3 vezes que os sem abrigos que temos internados preferem que a sua morada se mantenha "Praceta do Dr Manuel Manuel, 3º banco depois da fonte"... é verdade! Podemos pensar mil e uma razões... mas porque raio dizem que não a uma vida estável, com comida a horas, tecto para dormir e abrigar do frio e do calor??? Não sei... custa-me a compreender... a única coisa que me lembro que possa ser apetecível nesta vida de rua é a falta de regras, falta de horas, a sensação que têm falta de responsabilidade... têm comida aqui e acolá... dormem e sobrevivem, não tem de responder a ninguém nem por ninguém, não têm horas para cumprir. Não têm regras nas vida e são livres... será isso?  

 

Poderão pensar que o que disse hoje são situações mais sociais do que relacionadas com enfermagem, mas o facto é que diariamente lidamos com este tipo de casos, que nos fazem pensar e que ás vezes nos levam a ter pensamentos que poderão ser injustos. É assim em enfermagem, e é assim na nossa vida em geral!

 

Obrigado a todos os que comentam!!

Beijos e abraços!

 

Sinto-me: por vezes injusta...


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